Não
te conhecia, pois não.
Viveste
sob o meu tecto, usufruíste dos meus cuidados ao longo de quase dez anos e não
te conhecia.
És
do meu sangue, não és minha filha mas é como se o fosses, e não te conhecia.
Ao
longo do tempo vi-te crescer, apercebi-me que cresceste em altura, que
cresceste enquanto pessoa, que cresceste e te tornaste uma mulher, mas não te
conhecia.
É
sabido que as pessoas carregam ao longo da sua vida uma carga, pesada para uns,
mais leve para outros. Eu sabia que assim se passava também contigo. Eu sabia
que um dia irias voltar as costas e sair por aquela porta, sem qualquer
pensamento, sem qualquer remorso em relação àqueles que deixaste para trás. Mas
nunca pude imaginar que fosse assim, com uma frieza total, sem olhar para trás.
Mas eu não te conhecia.
Sabia
que isto aconteceria, por aquilo que de ti compreendia, sabia que tu querias
voar sozinha, já mo tinhas dito, mas a forma como o fizeste não foi a melhor,
pelo menos para mim, para nós, deve ter sido a melhor para ti. Espero que sim.
Mas eu não te conhecia.
E o
que posso desejar, enquanto penso nisto tudo, é que consigas chegar aonde
queres, tão longe quanto as tuas asas te permitirem. Sinceramente que sim. Não
à minha maneira, mas à tua. E penso, penso, e chego à conclusão que se tivesse
a oportunidade de voltar atrás, faria tudo da mesma maneira, a que considerava
que fosse a melhor para ti. Mas eu não te conhecia.